sábado, 18 de outubro de 2014

Os restos de nós dois


Eu entendo suas escolhas. Entendo cada passo que você tá dando e entendo que mesmo doendo em mim, é mais do que necessário você tomar coragem e enfrentar a vida de frente. Eu sei. Mas não me tire da sua vida desse jeito, não me trate como se eu fosse qualquer amizade que ficou balançada por um romance que não era pra ser. Por que eu sou do tipo que mendiga importância na vida de quem é importante pra mim. E puta que pariu, você é importante, cara.

A gente misturou tudo né? Fez ficar uma bagunça do lado de cá. No fundo eu queria mesmo é que você estivesse tão mal quanto eu. Meu lado humano tava com a esperança de que você olharia pra mim e reparasse de novo em algum cacho do meu cabelo deslizando no vento. Que talvez - só talvez - você enxergasse meu rosto e pensasse que sim, ele é estranhamente desenhado pra você. Mas a realidade esmaga as expectativas. Esmagou as do Tom (que você saberia quem é, caso tivesse assistido meu filme favorito) e esmagou as minhas também.

Você, já tão bem resolvido com tudo isso, me deixou com um nó no peito e fez com que eu me achasse meio idiota por ainda sentir um pouquinho de dor aqui dentro.

Tudo bem. Eu acho graça das suas tiradas numa conversa em grupo. Eu disfarço e procuro alguém pra conversar enquanto você sai distraído e me deixa com um tanto de coisa entalada na garganta. Eu finjo que superei, que lido bem com tudo isso. E na maior parte do tempo eu levo numa boa, mesmo. Só que te ver ali, tão perto e tão distante ao mesmo tempo... É um start nas lembranças que ainda estão frescas.

Sua risada perto da minha boca é de longe, a pior delas.

O tempo vai fazer seu trabalho, minhas orações vão ser atendidas. Eu vou me convencer que existem outros peixes no mar, e que afinal, você não é tão importante assim. Quem sabe eu perceba que o meu espaço aí dentro já diminui faz tempo, tome vergonha na cara e dê um jeito de te diminuir por aqui também. Mas isso só amanhã. Mês que vem, ou talvez no natal.

Hoje eu só tenho dor, silêncio, um filme que fica rodando sem parar na minha mente, suas atitudes frias e lá no fundinho a certeza de que um dia esse sentimento todo vai passar. Isso é o que tem me mantido sã, entende? Eu tô agarrada na esperança de que isso vai passar.


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Depois do fim


Prometi pra mim que não escreveria mais nada sobre você, pelo menos por um tempo. Mas não dá. Escrever é como organizar o que eu sinto, tira um tonelada de entulho do meu coração. E tem muita coisa acumulando aqui dentro sobre você, se eu não esvaziar corro o risco de ficar maluca.

Logo, cá estou eu, sendo sincera como não consigo ser com ninguém.

Primeiramente, eu tô sofrendo pra caralho. Cara, eu fui do céu ao inferno num espaço de tempo relativamente curto. E agora tô perdida. Nem te culpo, te agradeci e agradeço pela honestidade e coragem em não me iludir, mas isso não anula meus sentimentos. Não apaga as lembranças, os planos. O que eu consegui apagar foi o histórico de conversas, suas fotos, nossas musicas, essas coisas eu apaguei. Mas você, bom... Você tá impregnado nas paredes da minha vida. E eu não sei o que fazer.

Quando eu tive certeza que tinha acabado, foi como se alguém arrancasse todos os meus órgãos vitais de uma vez só. Faltou o ar, sobrou o choro. Minha cabeça pareceu que ia explodir, enquanto o meu peito já tinha se estraçalhado em pedacinhos. Ouvir sua voz embargada em lágrimas no outro lado do telefone fez tudo parecer infinitamente mais difícil. Eu me vi numa montanha de palavras soltas que eu queria te dizer, mas tava atordoada demais pra conseguir fazer algum sentido.

Foi muito ruim sentir tudo aquilo.

Poxa, eu só queria que tudo fosse perfeito. Queria que a gente tivesse tempo, que as coisas se encaixassem de vez. Queria que não existissem outras questões muito mais complicadas no meio da gente. Queria que a gente existisse de novo.

Só que a vida não é uma fábrica de realização de desejos, como diria John Green. E é um saco. Uma merda mesmo.

Eu tô chateada, tô magoada, tô pela metade. Só consigo me agarrar na esperança de te ter de volta, por que na verdade essa é a opção mais bonita. A outra, é viver uma vida certa de que ninguém vai me fazer feliz como você. Minha mãe disse que isso é bobagem, exagero sem tamanho. Talvez seja mesmo. Mas se a vida orquestrou toda esse espetáculo pra que o fim fosse trágico pra mim, ora, eu tenho o direito de dramatizar o quanto eu quiser.

Quando fecharem as cortinas, quem sabe eu entenda o motivo disso tudo. Por enquanto eu cato meus pedaços, engulo a saudade e torço pra te ver brilhar no palco. E espero, ansiosamente, a minha vez de ser aplaudida. Com ou sem você.

domingo, 12 de outubro de 2014

Espirais


Quando eu tinha uns 6 anos, teve uma sessão de fotos na escola. Os profissionais vestiam as crianças de princesas e príncipes, nos montavam de um jeito engraçado e faziam caretas pra gente mostrar os dentes. Meu cabelo era curto na época. Lembro que minha mãe viu as fotos 3X4 (aquelas que eles mandam pros pais escolherem) e exigiu que tirassem outra foto minha por que meu cabelo ficou muito armado naquela. Foi a primeira vez que eu tinha ouvido aquela palavra. Desde então não me lembro de sair de casa com o cabelo solto.

Não foi culpa da minha mãe. A gente sabe que é uma cultura imbecil que foi criada e colada nas paredes da sociedade. Ela não fez por mal, e nem pensa o que pensa por mal. Ela não diz que fulana tem o cabelo ruim por maldade, ela fala por que é assim que ela cresceu ouvindo. Minha mãe tem cabelo cacheado, lindo e bem cuidado. Mas ela não sabe. Ela ainda pensa em fazer progressiva. Não é preconceito dela, é assim que as coisas são, ou melhor, eram.

Eu passei minha adolescência inteira aprendendo todos os tipos de tranças que ensinavam em tutorias do youtube, passava dez minutos alisando a franja e mais cinco pra elaborar qualquer trança que prendesse o meu cabelo cheio. Não ficava feio não. Mas era um tipo de prisão, sabe? Todos os dias da minha vida eu acordava pensando no que fazer pra dar jeito na juba, e por mais que eu me esforçasse, não me sentia bonita.

Graças a Deus minha querida mãe sempre teve um pouco de medo de quimica, e mesmo que eu suplicasse pra ela me deixar alisar definitivamente a resposta era um sonoro não. Lá pelos meus 14 anos ela resolveu testar o relaxamento no meu cabelo. Desestruturou o cacho, ficou esticado e ressecado, com uma franja lisa e o comprimento esquisito. Esperei uns dois anos e meio pra toda a quimica sair do meu cabelo e tentei com outro profissional. Foi mas leve, suavizou o volume. Porém, eu continuava com a mesma rotina de sempre: trança/coque/rabo de cavalo.

No meio do ano passado, meu cabelo estava na altura da cintura, totalmente natural. Mas eu ainda tinha os meus traumas em relação à ele, não sabia cuidar direito, não aceitava o volume e tinha aquela velha ideia na cabeça: cabelo cacheado é lindo, mas não combina comigo.

Tomei um baque sentimental nessa época, coisa ligada ao coração. Senti que precisava me livrar daquele corpo e assumir uma nova identidade pra me libertar do que tinha acontecido. Uma amiga aconselhou que eu cortasse, e lá fui eu, com uma foto da Leticia Sabatella no salão. Saí aos prantos. Era o dobro do volume. Era o meu rosto em evidencia. Era tudo demais de uma vez só. Fiz selamento no meio de um ataque de pânico. Ficou esticado, meio liso meio cacheado. Um horror.

Comecei a buscar soluções na internet. E foi aí, no alto dos meus 20 anos que descobri um mundo de meninas com o cabelo crespo que se sentiam exatamente como eu me sentia. Conheci Suzane Camila, que me apresentou a santa fitagem, e conheci a Rayza Nicacio que me convenceu que eu sou linda assim desse jeitinho que Deus me fez. E conheci mais uma pancada de garotas lindas e confiantes que me inspiravam ( e inspiram) todos os dias.

Essas pessoas, aliadas com Deus, fizeram uma revolução na minha vida. Pode parecer questão de estética olhando de fora. Pode parecer bobagem ficar chateada com comentários do tipo: Ah, faz chapinha, você fica bem de cabelo liso. Mas só quem entende como é ruim ter o seu cabelo puxado por quase 1 hora e meia tentando deixar ele lisinho e ficar dois dias pra tirar o ressecamento que a temperatura deixa nos fios sabe como é maravilhoso e difícil aceitar os cachinhos soltos e indiscretos. Eu me acho muito bonita quando faço escova, combina com tudo e chama menos a atenção. Mas é muito sofrimento sabe, não vale a pena. Além do que eu olho no espelho e vejo que aquela não sou eu. Sei que ainda vai ter muita gente tentando me convencer do contrário, só que essa é uma energia vem de dentro pra fora. Eu aprendi a me amar com todas as cicatrizes que a vida me fez, aprendi a gostar da minha pele sem cor definida, aprendi a entender as minhas crises de carência, e aprendi a amar o meu cabelo cacheado, volumoso e nada convencional.

E sabe de uma coisa? Eu tô bem feliz.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Calmaria


Saí da minha palestra sobre empreendedorismo e a importância da importação de matéria prima sabendo uns 67% sobre o assunto, o que considero um numero bom já que passei as duas horas lendo um livro ótimo e respondendo mensagens no celular. Tudo ao mesmo tempo. Quando o auditório levantou pra aplaudir, eu catei minhas coisas pra ir embora, surpresa por ter acabado mais cedo do que eu imaginava. Enquanto caminhava pro local onde havia estacionado, fiquei pensando o que iria fazer na próxima hora em que teria de ficar esperando minha irmã sair da faculdade.

Estaciono pra terminar de ler meu livro? Vou ver meu namorado por uns 10 minutos na saída da auto escola? Vou embora comer?

Pautei as opções, e conclui que meus olhos estavam ardendo muito pra conseguir ler, o namorado não respondeu a última mensagem e eu não estava com tanta fome assim. Liguei as chaves e decidi ir pra um lugar tranquilo e bonito aqui da cidade. Foi um instinto, uma força exterior resolveu me levar pra lá.

Estacionei, deixei o celular, tranquei o carro e fui andando pros lados dos banquinhos que tem por lá. Um gramado enorme e verdinho, um lago que é grande o suficiente pra parecer infinito durante a noite e transparente o bastante pra fazer as luminárias em volta dele parecerem mais bonitas refletidas na água. Sentei por um minuto. O vento gelado se enfiava pelos furinhos da minha blusa, e eu sentia cada parte do meu corpo se arrepiar com frio, mas aquela a vista era incrível. E somente eu pra apreciar aquilo tudo. Seria desperdício ir embora.

Fiquei ali observando. Ouvindo ao longe as vozes agitadas das pessoas no barzinho que tem por perto. Olhando um casal no outro lado, no deck, inseridos num universo particularmente deles. Os patos se achegando na beira. Tudo orquestrado pra que minha alma fosse se aquietando.

De repente eu me vi de fora pra dentro. Tem tanta coisa acontecendo. Tanto compromisso. Tanto sentimento. Uma avalanche de novidades e de responsabilidades tem invadido minha vida e eu não estou conseguindo me achar mais. Não tinha me dado conta que o trem da minha vida tava se descarrilando e eu meio desastrada tentando fazer as coisas caminharem juntas sem pegar na direção.

A gente se perde no vazio e se perde também na multidão. E nem estou triste, confusa ou alguma coisa desse tipo, só que é muito. Muita felicidade acumulada. Muitas relações pra administrar. Muitos pensamentos soltos. Do fundo do coração, eu estou muito bem. Mas às vezes eu pareço criança que se perde da mãe no supermercado. E bate um desespero. Aí eu preciso de um tempo.

Tem horas que é bom sair de dentro de si e organizar tudo.

Cheguei em casa e os problemas estavam lá pra resolver, as contas pra pagar, o trabalho pra entregar. Não resolvi nada. O que eu fiz foi respirar. Sentir quem eu sou e pra onde quero ir. E se der, chegar inteira lá. Física, espiritual e acima de tudo, emocionalmente.