sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Foi ali


Foi no meio do caminho casa-trabalho depois de um dia cansativo. No refrão de Fancy, cansei da playlist pop que eu escutei em looping nos últimos meses e dei play no CD da Norah Jones que ainda tava intacto, empoeirando dentro do rádio do carro. Foi ali, cantarolando Don't Know Why que eu me toquei que todo o meu amor já não era mais teu. Não tinha sobrado nenhuma gota, nada mesmo. Pode parecer conversa de mulher amargurada que quer provar que esqueceu, mas juro que não é.

Tô te falando isso com o coração calmo, alma tranquila sabe. Acho que passei todas as fases de um término do jeitinho que tem que ser, e posso dizer com paz de espírito que te esqueci, sem ter precisado me afogar em beijos estranhos, bebidas ou baladas vazias. Eu deixei o tempo passar e ir arrumando tudo. Arrumou.

A gente sempre acha que quando termina um relacionamento tem que mudar o cabelo, sair com as amigas, criar contas em aplicativos inúteis, se mostrar feliz e conformada o mais rápido que der. Mas isso cansa tanto... É um jeito babaca de se machucar mesmo depois do fim. Cada tentativa frustada de chamar a atenção da outra pessoa é mais um A-C-A-B-O-U sendo martelado no peito.

Eu tive a fineza de sentir a dor. Fui elegante o suficiente pra saber que o seu abraço (que era o lugar mais confortável do mundo) iria ser morada de outros corpos. Eu ouvi toda a nossa trilha durante os dias mais tristes e fiquei ainda mais triste. Me questionei, pautei os motivos, discuti comigo, e concordei que foi o mais sensato a se fazer. Aí, passei a lembrar das brigas, da indiferença. Lembrei dos meus extensos monólogos sem plateia atenta. Lembrei daquilo que eu chamei de "gota d'água", e de quando você concordou que não tinha mais jeito da gente dar certo. E dessa vez não doeu tanto, fez sentido até.

Os dias foram, as lágrimas secaram, me entupi de musica animada e de coisas leves. Quando dei por mim já tinha escapado da jaula do sofrimento. Tomei coragem pra lembrar de você, do CD que tinha me dado e da nossa música.

My heart is drenched in wine,
But you'll be on my mind,
Forever...


Cantei e sorri, e foi aí que eu finalmente te esqueci.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Aceita, e finge que dói menos


Que tal um pacto? A gente combina de se pegar e só. Sem essa de se apaixonar e querer desenvolver um lance maior, por que amor, tá na cara que não vai dar certo. 

Não me chama de fria. Não me olha com essa cara de " eu não acredito que você tá me propondo isso". Por que se você quer saber, tá sendo bem difícil vir aqui e encarar esse olhar de romance vindo de ti. Tá foda mesmo. Mas eu fiz tudo pra tentar encaixar a gente e fazer funcionar, não dá. A probabilidade diz que as chances são pequenas demais e o risco é muito grande. Não de me machucar, por que esse eu encaro numa boa. Mas não suportaria viver á merce das sabotagens que a vida tá armando pra cima da gente.

Não adianta eu tentar articular os motivos, explicar o tamanho deles, e a gigantesca muralha que impede que eles sejam resolvidos. Falar as vezes estraga tudo, e com você eu nem preciso gastar minhas frases prontas. Significa tanto pra você, quanto pra mim. Não precisa ser dito. 


Já expliquei pro coração, e ele juntou o sentimento que tem guardado por você a tanto tempo com a minha cautela inteligente tentando não fazer uma besteira e entendeu direitinho. É melhor pra todo mundo, ele ponderou. Mas os hormônios ainda estão borbulhando com vontade de você. As mensagens ainda estão chegando, e eu ainda estou respondendo do jeito mais fofo que eu posso. Por que não consigo me afastar, é impossível não te querer.


Aceita minha condição? Vamos fingir que não existe nada. Vamos ser guiados pelos nossos corpos sedentos um do outro. Quero fingir que não sei nem o seu nome e conhecer a sua boca mais uma vez. Eu sei do buraco que fica depois, do vazio que dá por não ter certeza de nada. Mas toda minha estrutura corporal pede mais um pouco do seu afago.


A gente não tem chance de nada que ultrapasse esses limites amor, eu sei e você também. Só deixa eu me despedir aos pouquinhos. Tô tentando acreditar que assim vai ser mais fácil, tô me apegando nessa hipótese absurda. É uma teoria esquisita essa minha não é? Eu sei, só que é melhor que aceitar alguma condição que envolva seu sumiço total da minha vidinha carente de ti. 


Eu só aceito a condição de ter você só pra mim
Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir.
(Los Hermanos, Sentimental)