terça-feira, 15 de julho de 2014

Ruas e Erros




Os faróis da avenida entravam no carro sem a minha permissão, simulando flashes que se misturavam com as imagens dançantes na minha cabeça. Uma dança sofrida, tipo tango sabe? As lembranças cutucavam meus olhos que ingênuos, queriam resistir, porém eram fracos demais pra isso. Como o resto do meu corpo naquele momento.

Cada curva na estrada era um golpe diferente, uma peça encaixada, uma verdade dita. Nunca imaginei que do alto da minha inteligencia eu seria enganada assim. Nem é o fato de ter outra pessoa. São as mentiras. Quando você descobre que foi feita de idiota, coloca tudo em pauta. Absolutamente tudo.

E no final, era isso que mais machucava. Um erro não ferra um romance inteiro, o que ferra é pensar que a história pode ter sido vivida só por você. Assimilar que boa parte do seu tempo foi atuando sem saber num filme de péssimo gosto. Isso tritura até as coisas que podem ter sido reais.

Na rua o semáforo me pedia pra parar, brilhando um vermelho digno, como quem diz: diminui o ritmo vai, controla o freio e o choro, respira fundo, espera um pouco e depois, só depois começa de novo. 

Mas não dava, minha vontade era de furar todas as barreiras daqui até o infinito. Quem sabe em algum lugar por lá eu encontrasse paz, fugisse de mim. Correria o risco de não achar nada, tal qual corria o risco de morrer naquela estrada interminável. Porém nenhuma das coisas se fez possível na minha vida naquela noite. 

Eu apenas continuei dirigindo no automático, sem pensar o que estava fazendo. Levando ou sendo levada pra onde deveria estar. Até sentir alguma coisa estalar aqui dentro, um clique que me lembrava da pequenez daquela traição diante de todas as coisas que eu tinha enfrentado até ali. Não me fez querer ouvir happy, mas me impulsionou a ligar o rádio e afastar o que não precisava ficar pairando na minha cabeça.

Chegando em casa o locutor disse que a próxima canção, era dedicada aos corações enamorados. Ri, meio sem graça e desliguei tentando me poupar de mais sofrimento, pensando que naquela hora, só um coração inteiro já tava bom pra mim. Remendado, cansado... porém inteiro.

domingo, 13 de julho de 2014

Outro cara


Eu queria não estar escrevendo essa carta pra você. Queria não saber que existe outra pessoa tirando sorrisos infantis da minha garota. Queria ainda dizer que ela é minha. Mas não posso. Fui imbecil o suficiente pra não conseguir perceber o tamanho da sorte que eu tinha, e agora, não dá pra fazer mais nada. Alias, dá sim. Ainda dá pra me manter afastado, e dá pra te dar uns toques. Não pra te ajudar, por que isso seria masoquismo. Mas por ela. Por que eu não suportaria vê-la sofrer outra vez por quaisquer motivos.

Tenho que te dizer, ela vai te deixar maluco no começo. Vai mandar mensagem de boa noite e vai ficar chateada se você demorar pra responder. Vai dizer que tá carente, mas vai reclamar se você ficar muito grudado. Ela vai dar sinais que quer, e vai dar sinais que não quer na mesma intensidade. Ela vai achar que você desistiu, ou que quer desistir, ou que vocês não tem nada a ver um com o outro só por que você não conhece a banda alternativa que ela gosta ( e que ninguém -além da família dos integrantes- conhece).

Ela vai gritar silêncios intermináveis, desses que duram até você perguntar o motivo e que de primeira ela não vai responder. Mas insista. Insista sempre, insista muito. Ela é do tipo que acredita não valer nenhum esforço, mesmo querendo muito que alguém se esforce.

Então se esforce. Olhe pra ela sem dizer nada por alguns minutos. Brinque com as espirais que o cabelo dela tem. Diga coisas aleatórias, qualquer noticia que viu na Tv, um artigo na internet que leu, conte à ela do seu dia. Ela ama falar, mas gosta muito de ouvir também.

Leia o que ela escreve. Ela diz absolutamente tudo escrevendo. Mas leia nas entrelinhas, procure bem. Ela sabe o que mostrar, e não deixa que ninguém enxergue o que ela acha ser desnecessário.

Não minta nunca. Não pense que a ganhou em nenhum momento. Não grite a vitória sobre o coração dela. Ela detesta o comodismo de uma relação em que nenhum dos dois se permita conquistar o outro todo dia. Ah, ela é romântica sim.

Ela vai ver os filmes que você quiser ver (menos os de terror, ela não entende por que alguém assiste algo que assuste). Ela vai jogar vídeo game, vai ver futebol, vai rir com seus amigos, ela vai te entender e vai te ajudar sempre. Mas ela vai esperar que você faça o mesmo. Então faça. Mas faça com amor, do mesmo tamanho do amor que sentir por ela, e acredite você vai sentir.

E se acaso não sentir, ou por um segundo duvidar se é mesmo amor, seja sincero e vá embora. Assim como eu o fiz. Mas só faça se tiver plena certeza. Nós homens temos o péssimo defeito em demorar pra enxergar essas coisas e acabar metendo os pés pelas mãos. Seja diferente como ela espera que você seja. Olhe bem, repare. Decifre os seus próprios sentimentos. Se for amor, reze para percebe-lo antes de ir. Se perceber, fique. E agradeça aos céus pela oportunidade de fazê-la feliz.

Oportunidade da qual eu tive. E pra minha tristeza, decepção dela, e sua alegria, desperdicei.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Um cara aí


Ele passou pela minha vida faz um tempão. A gente andava de bicicleta pelo condomínio, eramos da mesma turma. Um dia ele pediu pra ficar comigo. Desse jeito besta mesmo, mas eu gostei da besteira dele por que de certo modo parecia com a minha. Foi um beijo só, suave, bom e meu primeiro. Dele também, mas isso eu só soube depois, fez diferença por que essas coisas sempre mexem com a gente, involuntariamente. Na época eu fui boba e inocente como se é com 14 anos e o primeiro beijo ficou sendo único. E ele ficou sendo meu amigo desde então.

Depois a turma deu uma afastada, mas ele ainda estava no alcance dos meus olhos. Acompanhava de longe, gostava de saber dos detalhes que ficavam expostos, largados pelos corredores do colégio. Uma conhecida minha teve uma história com ele, por alguns bons meses. O comentário era que ele não assumia nada sério, metade dizia que ele era do tipo pegador, e metade que ele não gostava realmente dela. Não sei, eu sempre gostei da minha versão: ele só não tinha certeza de nada. E na real, quem tem?

Depois do colégio eu só soube que ele tinha planos de morar da Europa. Achei inteligente, digno e aventureiro. Torci pra que desse certo, que ele tivesse sucesso nisso. As fotos no feed me deixavam animada e feliz, ele estava bem. Mas aí ele voltou pra cá. Acredito que por saudade da família, por vontade de tentar dar certo por aqui mesmo. Ou sei lá, tenha esquecido de levar uma coisa importante.

Ele esteve comigo outro dia, fazendo planos, sorrindo leve. Eu reparei que ainda admiro o seu jeito simples e boa praça de ser. Reparei que tenho um apreço imenso por ele e reparei finalmente que ele não passou pela minha vida á um tempão, ele permanece na minha vida faz um tempão. E não intensamente, não com uma amizade de infinitos rolês ou conversas de horas. Ele só está ali, e é o suficiente.

Com cada pessoa a gente desenvolve um relacionamento único, que não tem a menor necessidade de explicação. Eu gosto do abraço bonito dele, e da maneira que ele leva a vida. Pode ser amizade, carinho ou qualquer outra coisa. Sinceramente, se a explicação for afetar esse vinculo, eu dispenso.

Prefiro ficar com esse sentimento que eu não sei o que é. Deve parecer meio besta pra você, mas de certo modo, parece um pouco com a besteira dele, então por mim, está tudo bem.


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Será só imaginação?

(texto postado na tag "Entre a Gente" do blog da linda Fernanda Campos <3)


É comprovado cientificamente. Em cada 10 relacionamentos imaginários, meio vinga. A outra parte deste, você percebe depois que não é o que pensou no inicio e aí não conta na conta. Entende?

O nosso cérebro tem a incrível capacidade de planejar um casamento perfeito depois de uma boa conversa de balada. E não adianta falar que não é desse tipo, que não cria expectativa nunca. Você pode até ( assim como eu) ter apanhado muito da sua própria mente bagunceira, e perceber a linha tênue entre realidade e imaginação. Mas infelizmente ainda não inventaram o antídoto que cure o mal da ilusão.
Chego a rir de nervoso cada vez que lembro das tristezas que inventei. E as histórias que paravam na metade, antes mesmo de alguém dizer "era uma vez". Alias, é de praxe colocar a culpa dos contos, filmes e series que acompanharam as fases da vida de cada um. Não deixa de ser verdade, mas se isentar da culpa das nossas decepções é, no minimo, covardia.

A lista das pedrinhas que o ser humano segue no caminho (gradativo) da ilusão é vasta. Um apego besta que a gente pega no outro. Laços invisíveis que são criados em volta de nós. Uma bolha de sentimento que é estourada cada vez que toca em algo sólido. Horas iguais. Sonhos (daqueles que a gente tem a noite, sabe?) quase palpáveis. Piscadelas. Sorrisinhos. Conversas de elevador, de ônibus, de fila do banco. Ah, e as mensagens de madrugada? Essas são recordistas nestas coisas que fazem o coração bater num compasso que canta desesperadamente a esperança de finalmente ser.

Mas no fim não é. Vez ou outra por sorte (ou benção, como prefiro acreditar) a gente esbarra numa oportunidade real. Geralmente o sujeito não se toca. E assim é bem melhor. É aquela velha historia de ler o livro e achar o filme uma porcaria. Quando a gente sabe (ou acha que sabe) o roteiro, o enredo, o rumo que vai tomar aquilo tudo, é previsível, é chato. E quase sempre, decepcionante.

Sou das que preferem escolher um titulo qualquer e dar o play. Tento ser assim na vida, tento incansavelmente. Das vezes que consigo, comprovo: o clichê é verdadeiro. Entre a surpresa e a decepção, a primeira é bem mais vantajosa.