sábado, 21 de junho de 2014

Os laços invisíveis



Sempre fui do tipo que conversava fácil com qualquer um na rua. Quando pequena, fazia sucesso nos corredores de supermercados com um sorriso gratuito e respostas engraçadinhas. Os numerais da minha idade foram aumentando e eu fui moldando essa habilidade pra conseguir me manter sempre enturmada em todo canto que eu fosse.

Mas o mundo é um lugar amargo ás vezes, e as pessoas acabam cometendo atitudes que tomam o brilho de qualquer um. Amigos que me passaram a perna, gente que usou da minha boa vontade e depois foi embora, como se por trás dessa casca não batesse um coração. Eu acabei deixando cada pedacinho puro pra trás, e me fechei pra qualquer afeto externo que viesse em minha direção.

A adolescência chegou, com a explosão de hormônios e os efeitos colaterais disso. Passei a limitar o contato que teria com as pessoas que eu cinicamente chamava de amigos, por conforto próprio. Pra não me auto rotular solitária, eu passei a inventar amizades que não existiam de verdade.

Foi aí que eu conheci minha melhor amiga. Ela era uma garota vinda do interior, com a mesma pureza que um dia eu deixei escapar. O mesmo sorriso besta, a mesma facilidade pra se relacionar, mas sem nenhuma cicatriz que denunciasse as mesmas decepções que eu tive. Me reconheci nela, e num ato de desespero, tentando salvá-la dela mesma, eu me aproximei. Que tola, eu é que fui salva.

De pouquinho ela foi me ensinando a rir, a confiar. Me mostrou que todo mundo erra, e que as vezes é totalmente sem intenção (só as vezes). E o mais importante, se uma pessoa te fez mal, não culpe os outros 7 bilhões por isso. É injusto. Com eles, e com você.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Dentro das quatro linhas


Primeiro o Corinthians me escolheu. Depois eu escolhi o futebol.

Era último jogo do campeonato brasileiro, um time pequeno contra 30 milhões de corações desesperados por uma vitória. Ela não veio, e eu chorei o rebaixamento na frente da Tv, junto com a multidão apaixonada, que antes ama o time, depois o esporte. Meu apreço pelo futebol começou assim, no meio de uma crise do meu clube de coração.

Meu pai é palmeiras desde pequeno, mas eu não fui acostumada a ver ele torcendo de verdade pelo time. Logo, nunca me senti atraída pelo esporte, considerando que eu sou mulher, isso não chega a ser uma surpresa. Mas aqui no Brasil, não importa se é menino ou menina, a primeira pergunta que os tios/amigos da família fazem é pra qual time você torce, e dependendo da sua resposta, a conversa vira uma competição pra ver quem leva mais uma pro lado deles. Comigo não foi diferente, e eu que sempre fui do tipo que gosta do estrago, respondi que era Corinthians, por capricho mesmo.

Mas o que eu não sabia era a proporção que aquilo ia tomar, meus primos ( que são fanáticos pelo timão) passaram a me chamar pra ver os jogos, me ensinar o que era o que entre as traves daquele gramado enorme. E eu nem aí pra aquilo tudo. Meu pai, fingia uma revolta pela minha escolha, e ria junto com os amigos todas as vezes que eu me declarava parte da segunda maior torcida do país.

Eu até gostava da competição, com o tempo aprendi a entender de futebol, a sentir aquilo que parecia tão alheio á minha realidade no começo. Mas foi só em meados de 2007 que a paixão aflorou mesmo. Sofri cada partida, do rebaixamento á volta pra série A, aumentei minha coleção de camisetas, e passei a berrar o nome de cada jogador em campo e no banco. Consequentemente, o esporte se tornou um amor particular.

Confesso que hoje, não sou do tipo que assiste tudo, que tá por dentro de quem foi pra Europa e quem trocou de casa, me limito a acompanhar a fase ( não tão boa) do meu time). Mas em época de copa, eu vibro cada bom jogo, defendo a equipe que foi bem (mas não o suficiente pra ganhar), reclamo de falta não marcada, viro pro lado pra dizer que estava impedido sim.

E se você não compartilha do mesmo gosto futebolístico que eu, tudo ok. Zuação, cornetagem, e piadinhas estão liberadas. Só isso. A gente se divide no futebol pra ele ficar mais divertido, mas no final estamos todos na arquibancada, olhando pra uma bola que passeia nos campo procurando a rede. Tentando liberar o que fica preso na garganta nos 90 minutos, e enfim gritar, postar, chorar que foi gol. Ou melhor: FOI GOL CARALHO!!!

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Realizar


O sonho quando tá na cabeça da gente parece tão bonito né? Uma realização pessoal que vai ser a chave de tudo. Tenho a impressão de que ele se prende nas pequenas fibras do celebro ( ou coração) e fica lá, pra servir de estepe pra aquelas situações em que tudo tá uma merda. 

Quando o seu chefe te liga mandando refazer o serviço que demorou uma vida pra concluir, quando o cara mais legal da turma começa a namorar alguém que não é você, ou quando sua mãe te liga pra saber por que você não leva a cama pra rua, já que não para mais em casa. Nesses momentos, é o sonho, que ainda tá lá longe, é ele que te faz respirar fundo e mentalizar: tudo bem, eu vou arrumar um emprego pra fazer o que eu gosto, eu vou encontrar a pessoa "certa", tranquilo, daqui a pouco consigo me manter e ir morar sozinho.

Porém vez ou outra a vida faz questão de materializar esses desejos, e coloca- los perto o suficiente pra você sentir o impacto real deles. E aí, vem o medo. Ora, medo de que? 

Medo de ter sido tudo uma ilusão, e dos seus planos perfeitos irem pelo ralo. Medo de ter acreditado na coisa errada. Medo de fazer errado, de sentir errado. Medo da saudade que pode dar do antes. E maior que tudo, medo de não ter mais nada pra se apegar, nenhuma faísca de sonho pra sonhar.

A gente tem mais medo de perder o sonho, do que vontade de realizar. A maioria de nós pelo menos. Digo isto, considerando as conversas de boteco, o tititi nos corredores das empresas, e a reclamação rotineira na linha do tempo do twitter. É tanta gente falando que "não vê a hora que isso, ou aquilo aconteça" que eu paro pra pensar se a hora de acontecer já não bateu na porta, e a pessoa não quis atender, ou fingiu que não ouviu, ou pior, achou que não era merecedor daquilo.

No fundo todo mundo sabe que a vida é uma só, que a gente precisa aproveitar enquanto é tempo, e que todas ( ou quase todas) aquelas frases prontas que a amiga baladeira fala quando quer companhia pra festa são verdadeiras. Então, como humilde usuária deste vasto mundo da web, uso este espaço pra deixar alguns conselhos ( já que, claro, quase ninguém faz isso por aqui).

Quando você digitar uma frase que deixa transparecer o sentimento, aperte "enviar" antes que a avalanche de pensamentos contrários invada sua cabeça. Quando te chamarem pra uma entrevista que parece boa demais pra ser verdade, diga sim antes que seu chefe ouça que a ligação é pessoal e queira descontar do seu salário. Quando você chegar em casa com fome e sua mãe não estiver por perto pra cozinhar, deite no sofá e chore desesperadamente. Brincadeira, peça o combo pizza + Coca-Cola, que fica tudo certo. E me chama pra comer junto contigo, a gente aproveita e faz um brinde. Um brinde pela derrota do nosso maior inimigo. E um brinde também pela vitoria do nosso maior inimigo. Ei, isso é um paradoxo! Cá pra nós, sempre sonhei em inventar um paradoxo, brindemos mais uma vez. 

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Na contramão da via láctea


Formam constelações no seu rosto cada vez que você sorri e eu paro pra pensar em como consegui ir tão longe contigo, no tempo que o seu mundo suportou o meu, nas linhas que estavam sendo preenchidas pra que alguém depois soubesse como tudo aconteceu, até o momento (ou sequencia de momentos ) que eu decidi ser a idiota da história, e nenhum pilar ser suficientemente forte pra edificar nossa relação. Eu tento imaginar como nossas vidas vieram parar aqui. Como os nossos planos ficaram tão diferentes de tudo o que a gente tinha em mente.

Eu penso nesse roteiro velho, penso no filme que parou na metade, penso na garrafa quebrada na sala, penso nos beijos vazios que vieram depois de você. Eu penso em todos os medos que me roubaram do seu abraço, penso nos pensamentos que me fizeram sair pisando alto, certa que aquilo tudo (eu e você) era um erro estratosférico, e penso no que você estava pensando quando trancou a porta e me pediu a chave de volta.

Eu estive numa escola de idiotas sabe, antes de te conhecer. Dúzias deles descobriam meu telefone, e me enganaram de todas as maneiras possíveis. Meu professor de ética diz que um erro não justifica outro, embora cada palavra amarga que eu expulsei em sua direção tenha sido tirada de algum diálogo que outrora marejou meus olhos. E agora, com estrelas tão bonitas reluzindo no seu sorriso, olhos, e gestos, dói mais ainda. Dói por que eu sei como dói. Não que eu mereça algum sofrimento, mas eu sei que você é do tipo que sofre mesmo sem merecimento.

Porém aparentemente você soube lidar melhor com isso do que eu. Espero que sim, e se não, deixo algumas considerações finais para o seu (promissor) futuro amoroso:  
 
Não seja um idiota com alguém que te faça ver o céu bem na sua frente. Não respingue a dor que eu transferi pra você. Não tenha receio de ser o enganado. Eu estive nos dois lados dessa moeda. Garanto, o coração lateja por mais tempo. Ele pulsa descompensado, sem entender como pode estragar tudo, e isso é o pior. Enquanto você já digeriu o adeus, sacudiu a poeira e consegue me olhar com serenidade, eu ainda tô aqui, me perguntando por que fui tão... Tão idiota.

Não cometa os mesmos erros que eu. A solidão é uma punição alta demais pra alguém tão bom como você.