domingo, 30 de março de 2014

Eu confesso


Cê deve tá estranhando ter lido meu nome na sua caixa de entrada. Talvez tenha tido que forçar a mente pra lembrar da onde mesmo que a gente se conhece. Espero que se lembre, e que isso tudo faça algum sentido pra você. 

Primeiramente, desculpa tá? Desculpa ter te falado coisas tão agressivas no bate-papo do facebook. E desculpa ter te excluído também, me sinto uma adolescente de 13 anos quando me lembro disso, é infantil, eu sei que é. Mas no calor da raiva, sei lá, eu queria te arrancar o mais rápido possível da minha vida, te apagar da minha vista, entende que na minha cabeça era o mais logico a fazer? Me desculpa também ter te ignorado dali pra frente. Poxa, apesar dos pesares cê daria um amigo legal. Mas é que eu sou desastrada, atropelo as coisas. E daí estrago tudo, como com a gente. Não "a gente" como um casal, só "a gente" eu e você, como duas pessoas civilizadas que se dão bem. Eu queria ter te conhecido melhor e percebido que a gente não tinha nada a ver antes de tentar fazer ter. Antes de, você sabe, fazer aquela bagunça gigante com tudo. 

Eu fiquei puta quando te vi com sua atual namorada, por que cara, fazia uma semana que a gente não tava mais junto e porra, eu sou muito romântica. Pareço de titânio e tal, mas eu sou toda de papel mesmo, molho e me desfaço, fácil. Depois disso eu chorei todas a lagrimas que poderiam caber no oceano, e me olhei no espelho com a mesma expressão de derrota, aquela que eu uso sempre que alguma coisa quebra aqui dentro. Repeti o mantra do Buzz Lightyear, no meu vocabulário: odiarei aquele babaca, ao infinito e além. Foi uma semana difícil dentro da armadura, mas meu rosto denunciava uma interpretação de felicidade digna do Oscar. Fui capaz de rir quando me mostraram que você tinha atualizado o seu relacionamento nas redes sociais, sei lá, um mês depois. Eu ri, acredita?

Te achei absolutamente idiota quando o vi com uma aliança de compromisso. E odiei mais ainda por não ter sido quem te fez querer comprar uma aliança. Eu ainda acho essa coisa de ter que usar um arco prateado, cafona e desnecessário, mas não era isso. E essa carta é pra dizer exatamente que não era isso, não era o seu beijo, ou as mensagens de madrugada, não era nada disso. Não era e não é, digo, o que eu esperava de alguém sabe? E mesmo assim eu fechei os olhos e continuei remando, sozinha e pra lugar nenhum. Mas é por que eu sou assim sabe, eu faço as coisas do jeito errado. Eu saio apertando tudo quanto é botão, dou porrada no controle até fazer funcionar, e isso não é legal. Por hora funciona, mas vai desgastando, destruindo devagar.

Acontece que nós somos jovens, e certamente vamos fazer coisas piores com outras pessoas. Certamente que alguém realmente vai quebrar minha estrutura de um jeito muito mais cruel. Eu tenho consciência disso. Mas eu só queria que a gente tirasse essa pedra que eu coloquei em cima de nós, que eu pudesse olhar pro seu rosto e sorrir, reconhecendo que eu te conheço e que de algum modo você escreveu alguns parágrafos na minha historinha engraçada. Sabe, tô tentando um acordo de paz comigo mesma, e não dá pra fazer isso sem envolver os envolvidos.

Então, me perdoa tá? Por qualquer coisa que eu tenha tirado do lugar aí, e do fundinho do coração, eu quero mesmo que você seja feliz. Por que ninguém merece ter uma vida sem graça, e se eu desejo coisas boas, elas retornam. E convenhamos? Eu também mereço uma vida colorida. De verdade, apenas entenda aquilo tudo como uma experiência curiosa. E olhe pro meu nome como o de alguém que atravessou sua vida feito um furacão, que faz um tremendo alvoroço, revira tudo, mas que no final leva tudo com ele. E isso entende? Eu te trouxe comigo quando você pensou ter ido embora, e agora eu to devolvendo. Te aceita de volta tá? Te aceita que fica tudo certo, aí e aqui.

Ainda estamos no séc. XXI

Eu apaguei e reescrevi esse texto tantas vezes que não pude mais contar. Hora parecia simplista demais, hora parecia hipócrita demais. No mundo que a gente vive, escrever sobre temas tão ardidos, é dar um tiro no escuro. Mas eu resolvi dar o tiro, digo, dar o enter.

Algumas semanas atrás eu li alguns artigos sobre feminismo e vi  videos sobre o assunto, posso dizer que fiquei extremamente surpresa pelo que li, e vi. Concordei com alguns pontos e descordei de outros, começando pelo nome do movimento. Prefiro o termo " igualdade dos sexos" ao invés de feminismo. Mas não cabe á mim decidir sobre isso.

Me interessei por esse assunto devido á recente explosão do movimento, que ganhou força nos últimos dias com as noticias sobre estupro e assédio ás mulheres em trens e metrôs das grandes cidades. Nunca o direito de ser mulher plenamente foi tão exposto nas redes sociais e lá fora também, uma pesquisa em particular jogou mais lenha nessa discussão, apontando que grande parte da população acredita que as mulheres que se vestem "inapropriadamente" merecem ser estupradas.

O feminismo, na sua essência, defende que a mulher deve ter os mesmo direitos que os homens na sociedade, e que possuem o comando do próprio corpo. Logo, não cabe as pessoas alheias a uma mulher em especifico, saber se ela é ou não merecedora de um violência como esta. Acredito que todos, independente de qualquer coisa, não merece violência alguma, em hipótese alguma. Isso é indiscutível, e é penoso saber que uma parcela considerável da população, acredite no contrário.

Mas devemos pensar nisso como qualquer outro perigo que estamos expostos na sociedade violenta em que vivemos. Nenhum de nós gosta de ser assaltado, nenhum de nós gostaria de sofrer um golpe, mas estamos sujeitos á eles, infelizmente. Existem duas opções: sair as ruas, alimentar um movimento e tentar de todas as formas aniquilar a violência e o crime, ou nos precaver o máximo possível para que não soframos com tais transgressões. A primeira é bem mais atrativa e revolucionária, confesso que pessoalmente meu espirito de justiça a escolheria, mas sabemos ( por exemplos recentes, como os protestos do ano passado) que o esforço é imenso e os resultados não muito animadores.

Do mesmo modo, enxergo que nós mulheres temos sim o direito de nos vestir do jeito que quisermos, até nuas se for o caso, e ainda assim não sermos estupradas. Mas é preciso que tenhamos cuidado, cautela. Digamos que você tenha de atravessar a cidade, e existem dois caminhos, o mais rápido, por ruas vazias e perigosas, e o mais comprido, por avenidas movimentas e seguras. Não é logico o que se deve fazer? Logo, você pode vestir- se com roupas curtas que deixem seu belo corpo á mostra, você estará linda, porém sujeita a olhares indiscretos e situações bem piores. Ou você pode escolher um dia melhor para usar as suas roupas preferidas, um dia que não esteja tão exposta á coisas assim.

Não estou dizendo que o que devemos fazer e tapar o sol com a peneira e apenas nos trancar em nós mesmas, mas enquanto não existem leis severas sendo votadas no congresso para agressores sexuais, mais pessoas decentes circulando pelas estações do país, e principalmente uma igualdade real entre os sexos, o mais sensato a fazer é se proteger. E sonhar que nossas filhas, netas e sobrinhas possam sair tranquilamente de saia rodada por aí.

domingo, 23 de março de 2014

Cais


Eu tô aqui sabe? Eu ainda tô esperando você largar essas menininhas de final de semana e me ligar. Tô rezando pra que cê olhe qualquer cartaz de filme antigo e lembre da gente. Eu tô aqui olhando as estrelas e pensando que cê tá olhando elas também, e tá pensando que fez uma besteira enorme fugindo do amor que a gente tinha. Tá doendo saber que toda cantada barata que me fez morrer de rir, tá funcionando com essas garotas vazias que cê anda saindo. Mas mesmo assim eu tô aqui sabe, te esperando com um vinho e a música perfeita que cê sempre disse que queria dançar comigo.

Eu vi tantos filmes bons mês passado, cê iria gostar de todos, e eu ia gostar que você estivesse aqui pra me dizer que eu sou a cara da protagonista. Eu sinto tanto a sua falta meu bem, é difícil ouvir qualquer mbp sem lembrar da sua cabeça pendendo pra um lado desafinando uma nota no violão, me fazendo te acompanhar na canção que servia direitinho em nós.

A gente se conhece tanto sabe, eu te enxergo tão bem. Eu sei que é raro um lance assim como o nosso, e sei que isso te assusta.Te apavora eu saber tanto de você, perder o controle da situação né? Eu entendo cada linha sua, e todas as partes soltas que eu encontro por aqui eu encaixo em você. E não forço não amor, elas meio que vão sozinhas pro seu lado, te procuram sabe. E isso é tão raro, cê não vê? E raro poxa.

Se você tiver disposto a abandonar seus orgulhos e medos, eu queria dizer que tô aqui. E olha, não é fácil pra mim também, eu fico pequeninha perto de você, cê entende? Eu me assusto no jeito que a gente se olha e se compreende, eu sinto um bater de asas na barriga cada vez que uma piada nossa não faz sentido pra mais ninguém, só pra gente. Me dá medo de acabar rápido demais, dá medo de te machucar, me dá medo de não te ter mais de jeito nenhum, tipo como agora.

Eu não quero te prometer o amor que a gente sempre disse que sonhava, eu não vou te dizer que sou a pessoa que cê descrevia nas conversas de madrugada, a menina meiga e forte que cê queria cuidar. E nem quero que você tente ser o cara do cabelo mal arrumado, engraçado e criativo que eu desenhei na sua mão enquanto chorava um romance mal resolvido. Eu só quero que a gente se resolva, sabe, assim desse jeito nosso. Mas dessa vez sem ironias sobre um possível romance entre nossos olhos, só deixa a gente ser o amor que a gente sabe que é, não é ruim meu bem. É bonito sabe, é nosso. E é tão raro amor, tão raro.