sábado, 15 de fevereiro de 2014

Veterana

Apresentação do professor, piadinhas infames, marcas de biquíni, cheiro de folhas novas. Finalmente intervalo, cruzei o campos pra ver se distanciava meus pensamentos de todas aquelas regras da abnt, e as formulas de estatística. Foi quando o acaso esbarrou gentilmente comigo e me fez olhar na direção da biblioteca. Um rosto conhecido, com alguns papeis nas mãos e um rosto que estampava a expressão de ansiedade e medo. Os olhos pareciam os mesmos, mas a barba por fazer denunciava que meu amor de colégio já não era mais tão menino. Ele me reconheceu sem o aparelho e agora com óculos de grau e levantou os braços como quem pergunta, "como assim, você por aqui?". Respondi com o mesmo gesto, num tom mais despreocupado que o dele.

Falamos sobre os cursos, os professores, o estacionamento, sobre os velhos amigos, sobre o tempo e finalmente sobre nós. Mas não no furor adolescente de questionar o por quê de tudo. Nós só passeamos pelas lembranças e rimos de coisas que pareciam tão importantes naquela época, e que hoje, com menos espinhas no rosto, percebemos o quão banais eram.

O assunto foi se esvaindo, dando lugar a um silêncio constrangedor, mostrando os efeitos colaterais de tantos anos sem a convivência de antes. Numa saída estratégica eu disse que tinha que resolver qualquer coisa sobre a formatura. Ele fez que tudo bem, mas deixou no ar que tínhamos que nos falar, que queria que eu tomasse meu lugar de direito dentro dele. 

Esquisito como ele parece um mundo paralelo pra mim, um lugar que eu entro de vez em quando e me perco tão facilmente quanto Alice. Não que eu não tivesse me apaixonada tantas outras vezes desde nosso ultimo adeus. Mas era diferente, era tudo tão diferente. Era como procurar inutilmente uma saída num labirinto e ele ser a luz que me guiava pra fora, mas de um brilho tão forte que eu não sabia seguir direito.

Cinco anos depois estamos aqui inseridos num mundo particularmente nosso de novo, e eu presa na teia  dele logo no primeiro dia de aula. Igualzinho no ensino médio. Mas infelizmente eu não sou mais aquela adolescente sonhadora. Infelizmente esses anos torturaram os fios de delicadeza em volta do meu coração. E mesmo ficando balançada com aquela presença doce, cada fibra do meu corpo foi treinada para resistir á isso. O amor dói, sabe. E eu me tornei um enorme muro de Berlim protegida de tudo que possa me ameaçar de algum jeito. 

Eu bem que queria me jogar nos braços do destino, de verdade, eu realmente gostaria de poder não ser tão precavida com tudo. Mas infelizmente eu já sou veterana entende, já passei por muitas provas, já decorei toda essa matéria, sei exatamente onde tudo isso vai dar. E sinceramente? Ele é incrível, mas ainda não é o tipo que vale o esforço. E eu preciso de um estímulo maior pra arrebentar esse muro que me envolve, preciso de muito mais que um sorriso grande pra finalmente levantar uma bandeira branca. E  você não imagina o quanto eu quero estar em paz.

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