terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fatalmente ( parte1)


Sempre achei que fosse boa pra lidar com pessoas e sentimentos. Quando pequena, fingia bem que não tava nem aí, eu ria descaradamente, e desvia das perguntas como: de quem você gosta? De um jeito, que no fim, todos gargalhavam. E ninguém, nunca, conseguiu me ler. Alguns achavam que conseguiam, fuçavam em meus arquivos, liam meus textos, e assim de uma hora pra outra, pensavam mesmo que tinham me decifrado. Tolos, até nas entrelinhas eu guardava segredos. Mas aí, como em toda historia, alguém entrou no caminho e mudou o enredo. Eu finalmente o conheci.

Dez de dezembro e as pessoas ainda me cumprimentavam pelo meu aniversário. Fazer 20 anos é uma coisa grandiosa, mais do que 18 eu diria, por que finalmente eu tinha um carro, um emprego, amigos, a faculdade dos sonhos e um sentimento de que, se mais alguma coisa desse certo, eu transbordaria. Eu acordava de bom humor e sabia onde queria chegar quando se tratava do caminho entre o trabalho e o barzinho, e na vida também.

Em um daqueles churrascos do pessoal da empresa, eu vi um garoto magrelo lá no canto da sala, olhando pela janela entre aberta, com um copo de alguma bebida pela metade. Comentei com a Livia, e ela me disse que ele vinha do interior pra trabalhar no departamento de sistemas. Ok, se eu quisesse trocar alguma conversa sobre seu trabalho ficaria entediada, então o assunto da abordagem com certeza iria flutuar entre bandas, seriados e filmes.

 - Eu adoro essa música, I'am gonna give all my secrets away... - eu cantarolei, de olhos fechados quase como se estivesse invocando um feitiço.

- Prefiro a versão do boyce.- respondeu com um sorriso de canto, tentando não fixar os olhos nos meus.

- Tá brincando né? Dizer que um cover qualquer é melhor que OneRepublic, é no mínimo, burrice.- respondi no mais provocante tom de irônia.

- Talvez você pudesse me mostrar o que é música de verdade então?- uma competição de irônias se iniciara.

- Hum, é uma boa ideia. Vou começar descobrindo que tipo de coisa você anda ouvindo, sabe, sou boa em mentalização, ok, comece dizendo seu nome, ajuda.- cerrei os olhos, com os indicadores pressionando as têmporas. Ele não aguentou ver a minha cara, e soltou uma gargalhada gostosa de ouvir, rimos os dois.

- Sabe moça, não precisava mostrar toda sua gama de criatividade tentando saber meu nome, era só perguntar.

- Ah mas assim não tem graça nenhuma!- retruquei, fazendo cara de brava. Ficamos ali discutindo sobre música, seriados e filmes, exatamente como eu tinha planejado. Ele tinha um ar de entendido das coisas, mas tentava a todo custo disfarçar suas habilidades. O relógio na parede da sala rodava sem parar, e numa velocidade absurda quando fomos interrompidos pelo gritinho agudo da Livia no outro canto do apartamento, três doses mais alterada que o normal, ela trançava as pernas na nossa direção. Escorando os dois braços em volta de mim, beijou meu rosto e disse que me amava. Amigas bêbadas são uns amores.

Eu olhei pra ele, e balancei a cabeça, pedindo desculpas por ter que ir embora. Ele deu de ombros, e se inclinando na minha direção, sussurrou:

- Daniel, muito prazer- disse, esticando o braço para um aperto de mão convencional.

- Larissa, o prazer é todo seu. - ri, enquanto o puxava pra beijá-lo no rosto. Ele soltou um risinho abafado, e me olhou, dessa vez fixamente, tentando encontrar dentro do meu olhar algum resquício de meninice, sabe, qualquer fraqueza tipica de mulher que talvez, o fizesse me ganhar aquela noite. O que é engraçado por que, eu é que comecei aquela conversa, eu é que me aproximei. Eu estava flertando. O mais lógico é pensar que eu já estava nas mãos dele. Mas ele sabia que não, sei lá de que maneira, ele sabia que era só um jogo pra mim. Homens são guiados por desafios e me conquistar, acabava de se tornar um. Mesmo eu tentando convence-lo que já tinha conseguido, ele estava certo de que meu coração não era dele. Pelo menos não naquela noite.

( Continua)

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