sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Foi só um sorriso


Uma palavra bem-dita e um riso saltou de dentro de mim, puxando outros. Simples assim. Acho que senti falta disso, desse ar faltando, dessa vontade infinita, desse sentimento meio sei lá. Eu não vejo um motivo. Não vejo razões certas. Eu só vejo seus dentes tão brancos. Seus olhos tão pequenos.

Não sei dizer mais nada, não sei pensar em outra coisa. Eu só... só tenho você. Alias, nem isso eu tenho. Sem saber, tu me tirou o sono, a vontade de comer e me deixou só olhando pra mim mesma no espelho, tentando entender por que raios eu me deixei apaixonar de novo. Sabendo que era insensato. Sabendo que eu não nasci pra sentir isso.

Agora você continua aí, fazendo graça pra quem não te conhece direito. Ai meu Deus, o que eu estou dizendo? Nem eu te conheço direito. Expectativas são um saco. São elas que maximizam esse troço que eu tô sentindo, essa coisa que vem duma vez só dentro do peito cada vez que seu sorriso está bem perto. Ou bem longe. Como agora.

Tô tentando tapar o sol com a peneira, tentando esconder que eu já estou caidinha por você. Sei lá, eu tenho medo, como todo mundo eu queria que fosse real dessa vez, mas... Tem essas coisas maiores envolvidas. Como eu não saber se eu sou a unica que ouve seus dilemas noite a dentro e se esse sentimento todo é só seu, ou é meu também.

São pedrinhas que estão no meu caminho e que de nada atrapalham o meu coração teimoso. Ele não enxerga idade, nem receio nem distância. Isso aí só eu e minha cuca idiota é que colocamos no meio. Essa coisinha que bate aqui dentro só anseia o dia em que vai ver você e esse seu jeitinho besta tão perto de mim, que não vai ter espaço pra nada nem ninguém. E se você disser que me quer, eu largo tudo e vou me embora com você, combinado? Mas meu bem, por favor, vem logo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Elevador


Morei no interior desde que me conheço por gente, andando descalço na grama e na terra, sentindo a vida na pele. Meus pais me educaram da melhor forma possível, me guardaram dos perigos, mas deixando crescer minhas asas. E quando elas já eram grandes o suficiente eu voei dali. Terminei os estudos, passei em um vestibular que encheu minha cabeça por um ano inteiro. Peguei minhas coisas, disse adeus e fui pra Curitiba.

Sonhei minha vida inteira em ser jornalista, a profissão me encantava e o fato de ter que sair do fim de mundo que eu morava pra trabalhar e estudar, era no minimo, bom de imaginar. Comprei um flat miserável no centro daquela cidade limpa demais pra ser capital, e trouxe toda a minha bagunça, me ajeitei do meu jeito e comecei o curso.

Depois de dois meses eu estava estagiando em um jornal muito conhecido no estado, aquilo era um orgulho pra mim, e pra minha família. O curso ia bem, minha notas eram ótimas e os professores sempre me diziam que eu tinha futuro. O trabalho era perto de casa, em um prédio azul marinho, no 23º andar. Essa era a unica coisa ruim. Desde pequena eu tinha pavor de elevadores. Começou depois de um filme que eu vi quando tinha 7 anos, era sobre um assassino que atacava, é claro, dentro de elevadores, ele fazia alguma coisa pro elevador dar pane e parar, e aí atacava. Enfim, eu me sentia ridícula por me benzer cada vez que apertava o botão pra chamar o elevador.

Era um prédio comercial, o jornal que eu trabalhava ocupava dois andares, e nos outros eu não fazia idéia do que havia. E não me importava. Até aquela terça feira. Eu estava tão atrasada( maldito despertador de coruja que sempre estava parado) que entrei correndo pela porta do prédio e gritei pro carinha que estava dentro do elevador segurar a porta. Eu entrei sem nem olhar quem era, como era, e esquecendo completamente do meu ritual diário antes de entrar naquele cubículo.

Lindo dia pra um curto circuito. Luzes piscando, solavancos, suor frio, lagrimas, e enfim gritos de desespero. Sentei no chão socando a porta. Medo de morrer, medo do assassino daquele filme antigo, medo da vergonha que sentiria depois. Abraço apertado. Voz calma. Calma, calma. Tá tudo bem. Começou a desacelerar meu coração. O suor frio virou frio na barriga. Que alvoroço de sentimentos foi esse? Não entendi nada, só queria continuar naquele colo. Mais um solavanco. Foi demais pra mim. Apaguei.

Abri os olhos com todas as mulheres do meu setor ao meu redor. Me abanando. Levantei meio zonza. E a primeira coisa que fiz foi perguntar sobre o carinha do elevador. Ninguém soube informar. Disseram que ele me trouxe no colo quando resolveram o problema do curto circuito, e me deixou no sofá da recepção quando vieram ficar comigo até eu acordar.

Depois disso superei meu medo. Encontrei em um lugar apertado e escuro, um carinho desconhecido e amável. Passei a gostar de elevadores. Nunca soube quem era o tal cara. Minha mãe quis saber quem salvou sua garotinha, e meu pai queria falar com ele pra ver quem era o sujeito. Mas ninguém mais do que eu queria agradecer á ele. E depois pedir o telefone, marcar em um café, bater um papo e começar uma amizade, que talvez virasse alguma outra coisa depois.

Olho pra todos os rapazes de 1,80 que encontro pelos corredores e elevadores desse prédio azul. Tento encontrar  bondade dentro dos olhos deles. Mas é difícil. Eu só ouvi a voz da bondade. E só ouvi uma vez, até hoje de manhã. Quando o bendito despertador de coruja parou de novo e me fez gritar pra alguém segurar a porta. Apressada eu entrei, e quando a porta fechou, eu ouvi uma voz calma dizer: " Se tiver um curto circuito, promete não gritar? Meus ouvidos estão doídos até agora." Olhei pra trás, e disse um obrigado gigante com um sorriso de brinde.

Mais tarde tenho um compromisso no café da esquina. Um começo de amizade, e outras coisas também. Vou demorar pra chegar por que estão colocando espelhos no tal cubículo que me assustava. Me disseram pra usar as escadas, mas eu quis esperar, sabe, prefiro elevadores.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Teto de cinema


Olhos na parede. No teto. Teto de cinema. Tá passando aquele filme que eu já vi. Espera, não é o mesmo. Mas parece. Mesmos sorrisos. Mesmos motivos. Mas o mocinho é outro. Ou será vilão? Não sei. Melhor ver o final. A protagonista parece comigo. Tem meu jeito. Meus olhos. Meu coque no alto da cabeça. Ela está feliz. Mais que eu. Espera. Aquela sou eu. Ah é. Não é filme. São lembranças. Mas quero continuar assistindo. Remoendo.

Tô parecendo maluca de novo. Por que eu sempre faço isso? Fico mexendo, revirando. Como se eu gostasse da sensação de podia-ter-feito-mais-alguma-coisa. É inevitável. Acho que é quase uma obrigação essa temporada de fossa depois de cada romance mal terminado. Voltando e chorando. Mas chorando pela falta, pela saudade. Por que a gente nunca lembra direito do que fez acabar. Isso se desfaz com o tempo. O motivo nem é importante á essa altura. Mal consigo ver o que fez cada um ir pra um lado. Eu gosto é do meio da historia. Toda essa felicidade. Aquela felicidade. Aquelas mãos. Aqueles abraços.

Quanto mais intenso o amor, mais demora pra passar a vontade de refazer esse ritual de sofrimento. Dando play nesse filme com final turvo, embaçado. Sofrendo com alguém que já se foi faz tempo. Mas continua ali. Dentro do peito. No fundo da alma. Estragando o filme no fim de semana. Deixando o sorvete com gosto azedo. Fazendo tudo que é bom parecer sem graça.

Eu sei que é tarde pra começar de novo. Eu sei que meu pobre coração não pode mais suportar outras perdas. Outras coisas que eu sei que não vão dar mais certo. Eu sei que o fim, naquela hora, foi a unica saída. E sei que aquele adeus, não foi um adeus de verdade. E que eu vou te ver pelas esquinas dessa cidade, que é pequena demais pra esconder um sentimento que um dia foi grande. Eu sei de tudo isso. E por isso, eu quero estar feliz e sorridente quando isso acontecer, quero ter superado toda essa nostalgia que me pega nas noites de insônia, fazendo com que eu parece maluca. Mas esse encontro casual entre duas pessoas que se amaram um dia, eu deixo que o destino reserve pra nós. Por hora, eu quero mesmo é voltar pro meu teto de cinema, apertar o replay na minha memoria, e assistir de novo esse filme bonito que até bem pouco tempo a gente estrelava.

Querido amor



Está sendo difícil sem você. A geléia de morango estragou na geladeira, eu não consigo abrir o vidro, e não quero alguém que não seja você fazendo isso por mim. Minha melhor amiga voltou com aquele cara que você sempre disse ser um canalha, eu tentei fazer ela desistir mas eu não tenho os argumentos certos, você é que é bom nisso, aconselhar, juntar palavras soltas e fazer sentido.

Ando com celular na mão agora. Eu sei que alguém pode rouba-lo facilmente, mas meus dedos ficam solitários sem nada pra se encaixar, e não me importo se roubarem meu celular. Cansei de olhar na tela esperando sua ligação. Já decorei todas as antigas mensagens, e transferi as fotos para o computador, em uma pasta nomeada em letras grandes: QUANDO EU ERA FELIZ.

Eu lutei por você. Do meu jeito estranho mas lutei. Eu ajoelhei e pedi aos céus que me dessem mais uma vida inteira do seu lado. Mas não deu. Então aproveitei cada segundinho que restou gastando meus melhores sorrisos com você. Rindo das suas manias. Juntando toda força que existia dentro de mim e passando pra você. Valeu a pena. Faria tudo outra vez. Se fosse possível voltar no tempo, eu voltaria. E seria exatamente como foi, o seu olhar sereno no canto da padaria, e meu bom dia despretensioso ás 7 da manhã.

Eu perdi meu medo de cemitério, lembra como você ria de mim quando a gente passava na frente de um? Eu ficava apavorada, e você sempre dizia: Você deve ter medo dos vivos e não dos mortos. E eu te mandava calar a boca e ia até a esquina enfiada nos seus braços. Pois é. Você ficaria orgulhoso me vendo aqui, sentada num banco na frente de um tumulo escrevendo pra você.

Eu estou tentando meu amor. Sabe, cumprir a promessa. Mantê-lo na lembrança e viver a minha vida. Mas nunca foi tão difícil sair da cama. Nada nem ninguém tem graça depois que você se foi. E pensar que a ultima coisa que você me disse, foi sobre lembrar de trancar a porta. E eu querendo morrer ali com você. Eu disse que te amava. Será que você ouviu? Mesmo que não, eu sei que sabia o tamanho do meu amor. O tamanho da saudade que aumenta cada dia sem a sua presença. Parece um dia chuvoso que não passa.

Eu falei com sua mãe ontem, ela entrou em um curso de artesanato, você sabe o quanto ela ama isso, ela me disse pra fazer o mesmo, tentar ocupar a cabeça com alguma coisa. Então eu resolvi vir aqui, trazer umas flores, escrever. E dizer que a dor está diminuindo, dando um lugar á um sentimento bom. Nunca vou esquecer dos melhores anos da minha vida do seu lado. E sempre, sempre, sempre vou amar você.

 Então meu bem, eu espero que esteja em um lugar lindo, e que daí você saiba que ninguém vai ocupar o espaço que você ocupa no meu coração. Virão outros caras, com outros risos, outros lugares? É claro que sim, mas nenhum deles vai ter acesso ao seu lugar aqui dentro. Obrigado por cada momento de felicidade meu anjo. Até um dia.