sábado, 29 de dezembro de 2012

Adeus ano velho


É final de ano, e claro, você se vê rodeado de gente falando sobre o que fez nos ultimos meses, e como passou rápido desde a ultima vez que estavam ali esperando a meia noite e os  fogos de artificio.

Não tem jeito, dezembro é sempre essa nostalgia toda, seja pelos parentes de fora que chegam na sua casa falando sobre a sua infância, ou seja pelas lembranças que insistem em revirar dentro da gente os sentimentos que estavam bem escondidinhos em um canto esquecido no coração.

Pra mim, fazer esse retrospecto anual, dessa vez, vai ser até divertido. Não me lembro de um ano tão proveitoso como este. Mudei tanto desde a ultima contagem regressiva que nem posso contar em um texto só. E mudanças boas, que dá gosto de lembrar.

Comecei o ano querendo aprender a ser mais livre, ser mais solta, aprender a viver intensamente cada segundo. E em meio á esse aprendizado todo, eu descobri uma força que existia em mim, mas que estava ainda adormecida: a minha fé.

Umas amigas me convidaram pra ir em um encontro da igreja, e a partir dali, eu me transformei em uma jovem cristã em busca da santidade. E como isso mudou a minha vida.

Deus tem esse jeito, de chegar de mansinho e fazer tudo ficar melhor. Minha auto-estima melhorou, meu convívio com as pessoas melhorou, e minha lista de amigos verdadeiros em Cristo, aumentou. Pedi muito discernimento pra saber por que caminhos andar, e claro que Deus me concedeu essa graça.

Gente nova, sentimentos novos. Alguns caras apareceram querendo bagunçar tudo que estava arrumado aqui dentro, mas é claro que eu fui durona como sempre e nenhum deles teve êxito. Reforcei uma amizade de anos, saindo mais e conversando mais com aquela que é uma amiga é tanto. Mesmo me chamando de azia e querendo que eu saia de casa todo santo final de semana ela é um tesouro, bem precioso pra mim.

Eu coloquei uns valores em pauta, subi alguns e deixei outros de lado. E quantas pessoas  fui obrigada a cortar da minha vida, só Deus sabe. Odeio fazer isso, mas eu quero quem acrescenta ao meu lado. Quem soma sorrisos e coisas leves. Tudo bem ter problemas, mas não querer sair deles já é demais.

Nada de tão grandioso aconteceu do lado de fora do meu coração, mas com certeza esse ano cresci em aspectos que são difíceis de definir, como quando eu olho no espelho e gosto do que vejo, ou quando não tenho medo de falar coisas inúteis só pra ver alguém feliz.

Nesse 2012, foi muita choro e muito riso, muito tombo e muita vitória, e o melhor de tudo foi sentir que um ser bem maior que tudo, lá do céu me guia e me ama incondicionalmente, e que esse Deus me ajudou  completamente a traçar uma meta que á muito tempo eu tentava resolver: ser o que eu queria ser, e não o que o resto do mundo achava conveniente que eu fosse.

Pequenas coisas mudam a nossa vida. Pequenas atitudes transformam um ano sem nenhuma expectativa em um ano grandiosamente maravilhoso. Que em 2013 eu consiga um pouquinho de felicidade todo dia, pra mim e pra quem eu amo. Que seja um ano bom. E que todos levem a sério aquela frase que um dia Dalai Lama disse sabiamente: Seja a mudança que você quer ver no mundo.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pobre metáfora


Desde que entrei na faculdade, eu ando de ônibus duas vezes por dia. Mesmo que eu trabalhe, não consigo juntar uma grana pra comprar um carro, ou uma moto que seja, pra me locomover sem gastar tanto, culpa dessa maldita compulsão por comprar coisas fúteis que fazem meus olhos brilharem (aqui, lê-se roupas, acessórios, maquiagens, sapatos, e qualquer coisa de mulherzinha). Mas sabe, mesmo gastando com a passagem, e me roendo de raiva por cada centavinho gasto indignamente com outras coisas, eu até gosto de andar sentada num banco de ônibus. Em geral, eu nunca fui de dirigir, sempre gostei mesmo é de ir no passageiro, prestar atenção na decoração das ruas, nas sacadas dos prédios, e claro, nas pessoas.

Tenho a "sorte" de morar na saída do município, assim, eu demoro meia hora pra chegar em qualquer lugar no centro. A faculdade é no centro, então, todo dia eu cruzo a cidade pra chegar lá. Bem no meio do caminho, tem o terminal de passageiros, onde ficam os funcionários da empresa que gerencia o transporte publico, cobradores, motoristas e afins. A maioria dos passageiros ficam por ali, esperando outros ônibus para outros cantos da cidade.

Eu gosto de sair um pouco mais cedo de casa só pra ficar ali um tempinho que seja. Observando. Um tipo de mania infame que muita gente chama de curiosidade, mas que eu gosto, desde sempre. Quando pequena eu sentava encostada na parede da sala de aula, pra ter uma visão geral da turma, e ficava horas a fio só olhando cada gesto de cada pessoinha dali, tentando desvendar quem ela realmente era e quem estava fingindo ser.

No terminal não é diferente. Eu tiro uma parte do meu dia só pra alimentar essa mania. Olhando o rapaz de vinte e tantos anos que quase sempre esta com fone de ouvido, all star e camisa xadrez, com um lápis rabiscando no caderno velho, com o olhar longe dali, é fácil saber que ele desenha, ou escreve, com certeza é artista, tem pinta de artista. Do outro lado aquela senhora, empurrando um carrinho de feira, de colete de lã e óculos fundo, eu gosto de pensar que ela tem zilhões de netos e que todos chegam pedindo chocolates aos domingos na casinha simples que ela deve ter. Apressada, a moça de batom vermelho sempre está olhando pro relógio, abotoando a camisa, e tentando ajeitar o coque, é certo que trabalha em escritório, aposto que tem um namorado, isso explicaria o corriqueiro atraso.

È estranho nunca saber se minhas tentativas de desvendar a vida de desconhecidos tem um bom resultado, saber se acerto pelo menos uma vez ou outra. Estranho e ao mesmo tempo instigante, na verdade acho que a melhor parte é essa: nunca ter certeza. As vezes tenho vontade de perguntar pra essa gente se eu tenho razão sobre elas. Mas sei lá, tenho a leve impressão que elas me achariam maluca.

No fim, a vida é meio isso. Um terminal de problemas e coisas desconhecidas que passam diariamente por você. Se a gente for curioso o suficiente pra desvendar todas as facetas dela, talvez valha a pena. Isso mesmo, talvez. E essa é grande graça da coisa, a gente nunca sabe o que vai acontecer.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Uma dose de amor-próprio, por favor


Coloquei minha camiseta da minnie e um shorts velho, rímel e um pouco de blush, procurei minha melissa vermelha e meu relógio de coração, tranquei a porta e fui.

Não esperava muita coisa de um cara que eu mesma tive que convidar pra sair, então, nem caprichei muito no visual, encarei aquilo muito mais como um passeio com um amigo, do que um encontro mesmo. Na verdade, era estranho sair de casa com pouca maquiagem e uma roupa que eu demorei menos de meia hora pra decidir, mais estranho ainda era eu ter chamado alguém pra sair. Acho que tem a ver com minha confiança, que de uns meses pra cá resolveu dar as caras, depois de muito choro no chão do banheiro. 

Quando lembro da época da escola, com meu fone de ouvido e um livro na mão, sentada na escada solitária daquele prédio velho, eu nem me reconheço. Costumava ser a rainha do drama, vestir o papel de senhora magoa. Eu meio que sentia um prazer quando alguém ficava com pena de mim, já que pra mim, meu cabelo era horroroso, minha pele estranha, e minhas roupas um lixo. Acho que era meu jeito de ter a atenção das pessoas. 

Isso é uma característica minha. Eu a-m-o aquela sensação de ter alguém te olhando, ou falando sobre você. Hoje eu sei  escolher os motivos certos para ter os olhares curiosos das pessoas na rua. Mas antes... Eu fazia isso de um jeito errado, e digamos, detestável.

Percebi que meu comportamento era uma coisa ruim, quando eu estava quase resolvendo uma questão amorosa com um garoto da minha turma, e uma menina nova entrou na sala, pra bagunçar minha quase relação, e resolver meu problema de auto-aceitação.

Ela nem era tão bonita, mas tinha aquela "coisa" que faz qualquer cara prestar atenção no que ela estava falando. Depois de um tempo eu reparei que a tal "coisa" tinha um nome: confiança. Demorou pra eu conseguir achar o ponto que ligava isso em mim. Mas depois de uns caminhos errados, eu achei o trajeto que me levou pro titulo de garota alto astral e agradável de hoje.

E vou dizer uma coisa: Não tem nada melhor do que se sentir bem consigo mesmo. Amar cada parte por menor que seja do seu corpo,e da sua alma. Traz uma sensação unica que eu não vou poder descrever agora, por que o cara que eu convidei pra sair acabou de chegar. E ele se arrumou pra hoje, que gracinha. Vou usar meu melhor sorriso, e a conversa leve que passei a ter. Ele é um cara legal sabe, acho que faz o meu tipo. Mas deixa pra lá, isso já é assunto pra outro texto.




quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Minha quase resenha do Livro Depois dos Quinze


Vestido, maquiagem, cabelo. Tem pessoas que se importam de verdade na sala da minha casa. Bolo, parabéns. Gente falando que lá se foram 19 anos, que eu estou ficando velha e tudo aquilo que é previsível que te digam no seu aniversário. Aquela minha amiga ligada nas coisas legais da era digital acabou de chegar, veio sorrindo pra mim com um pacote nas mãos, eu sabia que ia gostar. Sempre gosto das coisas que ela me dá. Abri o pacote e vejo uma Bruna Vieira na capa.

 Faz de conta que eu não pulei feito retardada, e dei gritinhos de criança de 5 anos quando peguei nas mãos o livro que eu quero desde quando fiquei sabendo (por um vídeo do blog) que iria ser publicado. Agradeci o presente, passei os dedos na capa,   fiquei admirando a Zooey, que desenhada ali me parecia mais carinhosa do que nos relatos da dona. Li a orelha, cheirei as paginas, que sensação boa que traz esse cheiro de livro novo. Ou de livro velho. Cheiro de livro sempre me remete coisas boas. Enfim, passei o olho pelas linhas.

Tinha mais gente chegando na minha casa, e eu ali, não querendo soltar aquele pedacinho da garota que me acompanhou, mesmo sem saber, durante os dois anos que conheço o blog. Barulho, comida, uma ou duas músicas que eu gostei de verdade, e pronto. Todos foram embora, tomei um banho rápido, peguei o livro, sentei na cama as 3:40 da manhã e comecei a entrar no mundo fascinante e real da minha escritora quase predileta (clarissa corrêa ainda é meu amor primeiro).

Não li todo ele, queria aproveitar cada pedacinho devagar, como quando saboreio aquele doce que eu adoro, bem lentamente, pra adiar o final dele.

Engraçado, me vi em alguns textos, com o meu eu de agora, livre e solta. E também me vi em outros textos, com meu eu de antes, e que bom que é de antes. Que bom que eu passei algumas fases. Essa parte da vida que a gente chama de adolescência, é tudo de bom e ruim que pode existir em apenas alguns anos. Mas sabe, lendo o meu livro favorito, eu sorri em cada página. Feliz por que com toda certeza, a minha melhor fase é agora. A Depois dos Quinze.

PS: Obrigado por isso Bruna, muito obrigado.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Meu ultimo amor de colégio



Nunca gostei de estudar. Eu gostava era de ir pra escola, zuar com as amigas, rir dos professores, mas estudar era um castigo pra mim. Consegue dimensionar a minha alegria com o ultimo ano do colegial? Passei o 2º ano inteiro imaginando e planejando tudo que faria no próximo ano. Queria que fosse inesquecível, seria a ultima vez que eu ia fazer qualquer coisa naquele maldito colégio.

Comprei um caderno da barbie com cheirinho pra me lembrar sempre daquela época, parecia que iria ser um ano mágico. Tirando a pressão do vestibular é claro. Juro que não estava nos meus planos me apaixonar, eu juro, mas o coração é claro que não obedece nossas regras. E o que era pra ser um bom final de fase, foi um marco muito maior do que gostaria.

Segundo mês de aula, e eu ainda não tinha decidido aonde ia sentar, é difícil conseguir um lugar que dê pra bater papo com seus 4 melhores amigos. E paralelamente com minha difícil escolha, minha melhor amiga do mundo comentou que seu primo bonito, que ela me mostrou uma foto alguma vez, viria estudar conosco, não dei muita atenção pra isso. E uma semana depois ele estava lá, sentado ansioso no pátio da escola, esperando a prima que parecia que não ia chegar nunca. Ela me mostrou ele de longe, meu coração não pulou, minhas pernas não tremeram, não aconteceu nada. Eu só olhei pra ele, e lamentei ele usar aquele estilo de roupa, tão comum nessa cidade e tão desprezível ao meu ver. Fomos apresentados, e logo já puxei papo, nada de interesse, ele era um garoto novo, e eu sempre estudei lá, então, só quis fazer com que ele se sentisse bem ali. Meu lado boa garota apareceu pra pessoa errada, mas eu não sabia na hora.

Ele logo percebeu que eu era inteligente, e muito carinhosa com todo mundo, sentou perto de mim na sala, e fazia questão de arrastar a carteira do meu lado todo santo dia. A gente conversava, ouvia música, ria e brigava, e cada aula diferente crescia um sentimento dentro de mim sem eu perceber. A sala toda comentava que parecia que ele era meu primo, por que ele nem falava com a prima verdadeira dele. Comecei a notar que alguma coisa estava diferente quando eu olhava pra ele e sorria instantaneamente, e tive certeza quando ele colocou um tipo de música que eu odiava enquanto dividíamos o fone de ouvido, e eu não disse nada.

Dá pra acreditar que eu decorei a música em um dia? E ainda virei fã da dupla que interpretava. É, ele fez uma reviravolta em mim. E ficou pior quando meus amigos me convenceram que o meu sentimento era recíproco. Pior por que eu comecei a deixar pistas, esperando que ele me seguisse. Voltando e deixando outras pistas. Me humilhando e escrevendo na testa que eu estava apaixonada. Mas nada. Ele fazia que entendia os meus recados, mas não agia de verdade.

Comecei a perceber que entre cochichos, ele fazia o mesmo com todas as garotas da turma, e as de outras turmas. Vi o tamanho do seu ego inflado cada vez que uma garota diferente vinha fazer algum favor que ele pediu em meio á um abraço, ou um beijo na testa. Todas em volta dele. Paparicando. E eu me senti idiota quando me vi no meio delas. E fui me afastando. Fazendo cara feia pra cada piada que ele fazia comigo, respondendo com grosseria cada favor que ele me pedia. Dizendo não, mas querendo dizer sim, torcendo pra ele mudar por mim. Correr atrás de mim. Gostar de verdade de mim, e não apenas fingir. Mas outra garota fez isso melhor que eu, e aí ele começou a namorar, já era junho e nada do que eu tinha planejado pro ultimo ano eu tinha feito. Me dei inteira pra um sentimento que só me deixava no chão frio. Em troca de nada. Via ele no intervalo com a tal garota, que nem era a mais bonita da escola, e me corroía por dentro, lutava pra nenhuma lágrima cair ali na frente de todas aquelas pessoas.

Eu lembro de um dia que a TPM estava bagunçando mais ainda tudo aqui dentro. Nem saí da sala, fiquei ali quietinha num canto copiando qualquer coisa no caderno. Quando todo mundo entrou na sala falando com ele, rindo sobre algo relacionada com a nova garota que ele andava abraçado nos corredores, ele sentou atrás de mim, brincou com meu cabelo, tremi por dentro e por fora continuei com os olhos no caderno, minha amiga (que não era muito esperta nessa época) falou pra ele conversar comigo, por que eu estava brava, por algum motivo que todos sabiam, mas fingiam não saber. Ele falou algo como: “ Eu não! Foda-se, não fiz nada pra ela!” Mesmo depois de 2 anos quando lembro dessa frase ainda dói um pouquinho. E como se não fosse o bastante ele com tom irônico em meio a risadas disse ainda: “ Você ta com ciúmes?” minha TPM não suportou ouvir aquilo, e a dor se transformou em raiva e eu gritei pra turma toda ouvir : “ Ah! To com ciúme sim ! Se enxerga garoto! Cresce ! Me deixa em paz!” O silêncio invadiu a turma, e se alguém tinha duvida que eu era apaixonada por ele, com aquela frase quase chorada e nenhum pouco verdadeira da minha boca, tiveram certeza.

A TPM passou, a raiva passou, a ferida diminui, e já era novembro, ele nem estava mais com a tal garota, eu já falava com ele normalmente, fingindo (bem na verdade) que não sentia mais nada por ele. Eu aprendi a filtrar meus sentimentos, e passei a ignorar as atitudes que me faziam querer matá-lo,  até  meus amigos mais próximos quase acreditaram que eu tinha superado. Por ironia ele começou um relacionamento com uma garota que hoje vem a ser uma das minhas amigas mais próximas. Ela não aguentou muito tempo, e hoje está com um cara legal, que a merece de verdade.

No meu ultimo ano de colegial, eu não fiz nada de importante, não pulei muros, não quebrei regras. Mas mudei totalmente meu jeito de enxergar as coisas. Aprendi muito com o cara mais estúpido que conheci na minha vida inteira. Aprendi a ver quem quer sua companhia e quem precisa dela, que nem sempre um abraço significa alguma coisa, e que o coração é um lugar bonito demais pra deixar qualquer um entrar pisando em tudo. Ele me abriu os olhos e me fez ver como uma pessoa imatura pode ser podre por dentro. E me deu a lição mais importante: se alguém não te merece, não te valoriza, ou simplesmente é um canalha, vire as costas e vá embora. Não perca seu tempo. Por que  já pode ser dezembro do seu último ano, e você não terá nada além de cacos do seu coração pra catar enquanto fazem a contagem do Ano-Novo. 

A ingenuidade de antes


Quando eu entrei na sétima série, as minhas amigas até então, caíram em outra sala, e eu me vi sem nenhum conhecido na minha turma. Não tive problemas pra arrumar companhia, sempre fui rápida pra fazer amigos. Foi nessa época que conheci minha melhor amiga até hoje. Mas esse não é um texto sobre a nossa amizade (embora ela mereça muito que eu escreva um texto pra ela) isso é mais sobre o que aconteceu um pouco antes de eu entrar nessa fase adolescente, com novas metas e novos rumos. Isso é sobre meu primeiro amor.

Eu tinha 12 anos e andava em uma van escolar (sofri um acidente com 5 anos e depois disso meu pai resolveu que era perigoso eu andar de ônibus sozinha). Na escola eu tinha umas amigas que não eram pessoas muito boas para se conviver, mas eu nunca fui influenciável, então, não via problemas em andar com elas. Na verdade, nem me importava com o que acontecia da hora que eu chegava no colégio até a hora da saída. Eu ansiava era pelo trajeto de ida e volta. 

É claro que tinha um garoto, ele estudava em outra escola, e morava longe da minha casa, era um ano mais novo (desde sempre eu tive queda por garotos mais novos) e muito engraçado. Nós conversávamos o caminho todo, eu guardava lugar pra ele, e a gente falava de tudo. Um dia ele perguntou se eu queria namorar com ele, duas crianças de 12 e 11 anos falando sobre amor, e eu disse que sim. Não havia espaço pra dúvidas, joguinhos, redes sociais ( não achava graça nenhuma em internet) Era só eu e ele de mãos dadas no caminho de casa pro colégio, do colégio pra casa. Nossa, como me senti amada com isso.

Foi a primeira borboleta que entrou em mim, a primeira vez que meu coração bateu mais rápido por alguma coisa que não fosse sorvete de morango. Fiz aquele número falando de algum amigo bonito que dava em cima de mim pra ver se ele ficava com ciumes, depois fiquei culpada e falei a verdade, nós rimos. Os outros alunos da van, todos com uma faixa etária menor que a nossa, faziam piadas conosco, ele nem ligava, e eu também não. Nos sentíamos tão adultos.

Acho que foi durante uns dois meses ou mais. Não teve beijo, não teve amasso. A gente só se dava bem. E achava mesmo que era um namoro como de gente grande. Mas era mais que isso, era uma coisa boa, pura. 

Um dia ele olhou pra mim e falou que queria que voltássemos a ser amigos. Não entendi, não respondi, só concordei. O engraçado é que eu ainda faço isso, nada de escândalo, só o silêncio. Não gosto de ser assim, mas o orgulho me toma rápido e não deixa eu falar nada do que eu quero. Nem hoje, nem aquele dia, quando meu coração queria gritar alguma coisa, qualquer coisa que fosse, só pra poder sentir aquelas mãos se encaixando nas minhas.

Depois ele mudou pra uma escola perto da casa dele, não precisava mais de transporte escolar. O motorista da nossa van me entregou um bilhete dele, estava escrito com caneta vermelha: "Eu ainda queria namorar com você, mas não tem espanhol na minha escola, e minha mãe disse que eu preciso aprender outra língua. Talvez quando eu aprender a falar direito em espanhol ela me coloque de volta na van, e a gente volta como estava se você quiser. Eu ainda quero segurar sua mão".

Eu devo ter guardado o bilhete em algum lugar, mas acho que ele se perdeu no furacão que passou na minha vida e arrasou com minha família naqueles dias. Mesmo com 12 anos, a dor de perder alguém pra uma doença faz qualquer amorico parecer bobagem. Acho que por isso nunca falei sobre ele pra ninguém. Nem pras minhas amigas de antes, nem pra minha amiga de agora. Até nas minhas lembranças ele está meio apagado. É como se todas as coisas que aconteceram antes da sétima série fossem um filme antigo que eu só consigo lembrar pelas metades. Mas quando eu aperto play, eu sei que vi. Ou melhor, que vivi.

Os anos passaram, eu mudei o cabelo e me arrependi. Beijei um garoto legal e sofri por ele depois. Briguei com minha amiga da vida inteira por um motivo imbecil, chorei e fiz as pazes. Quase reprovei em matemática. Me humilhei pra um cara idiota que não merece nem ser citado. Melhorei de estilo, conheci o amor próprio, entrei na faculdade. Passei numa rua bonita e esbarrei em uma garoto magrelo com cabelo familiar. Isso aí foi na semana passada, e adivinha quem era o garoto? É, ele mesmo. 

Ele não me conheceu e segui o seu caminho, eu não tive coragem de falar nada e segui o meu. Mas quando cheguei em casa, sentada na cama, percebi que aquilo sim foi um amor de verdade, mesmo com toda nossa ingenuidade daquela época, acho que nos amamos. 

Guardei toda lembrança que me restou dele bem guardada na gaveta da minha alma, pra quando eu pensar que é impossível encontrar um cara que goste de mim de verdade, eu abrir a gaveta, soprar o pó da saudade, e ver que alguém fez o amor acontecer comigo uma vez. E pode apostar, alguém vai fazer de novo.