Nunca fui de desconfiar de ninguém, não sou a louca ciumenta que fuça as redes sociais e dá uma de stalker profissional, eu confio ou não confio. E eu confiei nele, por que achava que podia. Eu sempre tão esperta falando sobre literatura, ciências e arte moderna, me achava a sabe-tudo, olhava no olho dele e tinha certeza que ele era meu e que cada palavra era docemente verdadeira. Burra,burra,burra.
E minha fantasia de amor perfeito caiu naquela tarde de sábado,ele no jogo como sempre, eu idiota resolvi ir lá fazer uma surpresa. E fui surpreendida. Ele não estava lá, perguntei pra uns caras se alguém sabia onde ele tinha se metido e senti o chão afundar quando um deles respondeu: "Ele saiu com a namorada dele, vem jogar só nas quartas agora.” Namorada. Dá pra acreditar? O engraçado é que quando eu comecei a ligar os pontos eu percebi em letras grandes na minha testa: OTÁRIA. Tudo fazia sentido, ele não me deixava ir na casa dele (mãe implicante), quase não saíamos nos finais de semana (ele dizia que estava cansado e eu acreditava).
Rodei meio sem rumo,e resolvi ir no parque que a gente ia sempre, e claro, ele estava lá com ela. O mesmo lugar que ele dizia ser único e especial pra gente. Abriu um arrombo no meu peito. Eu quis sair correndo mas as minhas pernas não me obedeceram e continuaram a andar na direção deles. Parei quando ele podia me ver. O rosto dele parecia de uma criança que foi pega roubando doce da geladeira. Me deu vergonha dele e vergonha de mim por ter sido tão tola. Virei as costas e fui andando como se nem me importasse, claro não me importaria em ver todas as promessas e toda aquela baboseira de até o fim se quebrando ali bem na minha frente. Catei os meus cacos espalhados no caminho de volta pra casa, e esperei ele vir se explicar, eu sabia que ele viria.
Criei o ultimo diálogo que teríamos umas dez mil vezes, ora com mais raiva, ora com indiferença. E depois de uns dias ele veio. Tão previsível. Bateu na minha porta, minha mãe atendeu dizendo que eu não iria falar com ele, então ele começou a berrar na varanda da minha casa “Eu terminei com ela. Ela não me conhece como você, não significa metade do que você significa pra mim, ela não sabe...”- Eu não aguentei e o interrompi descendo as escadas, e com o tom mais alto do que eu gostaria: “Chega C-H-E-G-A! Não quero ouvir mais nada de você,vai embora. Por favor.” Eu o olhei e não conseguia ver mais o cara que eu tinha namorado por oito meses,era como se ele fosse um…um estranho. Eu desci mais uns degraus e falei calma- “Não dá, eu nem sei quem é você. Agora vai,sai da minha casa. Sai da minha vida”. Eu virei as costas, comecei a subir pro meu quarto e escutei a voz miúda dele quase sussurrando: “Mas eu te amo, eu,eu te amo”.
Não acreditei nele. Minha mãe me ensinou a duvidar de estranhos. Ele disse que me amava, eu não respondi. Aquela velha historia nem existiu realmente, mas tivesse existido, ali ela tinha acabado de terminar.
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