sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Nós

Nos vimos outra vez. No ônibus, voltando pra casa depois de um dia de reclamações atras do balcão. Ele olhou pra mim com o mesmo olhar maroto de uns anos atrás. Sorriu. Veio em minha direção. Cambaleou com a esquina fechada que o motorista pareceu fazer por graça. Nós rimos. E em um minuto a nossa ligação é restabelecida, como se todos esses meses sem saber nada um do outro, simplesmente desaparecessem.

Ele ficou em pé, do lado do banco que eu estava sentada, tentando inutilmente me dizer alguma coisa, eu balancei a cabeça e ele me entendeu. Muito burburinho, impossível conversar. Um senhor entrou no ônibus, e a obrigação de ceder o lugar se juntou com a vontade de chegar mais perto dele, menos de um segundo e eu estava em pé. Ficamos lado a lado. Rodeados com as perguntas de sempre. Sobre o emprego, a faculdade, aquele evento bacana que aconteceu outro dia.

Nossos olhos se achavam facilmente, como nunca deixou de ser. E de repente me vi desejando que aquele ônibus andasse pela cidade inteira antes de chegar na casa dele. Que aquela viagem nos fizesse voltar pros nossos dias. Longe de todo o mundo lá fora. Só nós e essa conexão infinitamente forte que nos une.

Onde foi que nós perdemos mesmo? Eu nem me lembro. Acho que fiz questão de esquecer. Questão de ficar só com o que me fazia querer aquele abraço por tanto tempo. O melhor abraço, e o melhor de tudo de bom que pode existir nessa vida. Era dele, era com ele. Só com ele.

Com um oceano entalado na garganta, ele me olha, e encosta a cabeça no apoio do corredor. Me enxerga por dentro e por fora, e entre um suspiro e eu leio a palavra saudade na sua respiração. Aposto que meu sorriso infantil já denunciou o mesmo sentimento no instante em que o vi.

Mas o ônibus para, antes que pudéssemos resolver qualquer coisa que nos impede de ser um do outro. È hora dele descer. E meu coração lateja vendo se esvair mais uma chance de sermos felizes como antes. Ele diz que vai me ligar, que a gente se vê por aí. E eu fecho os olhos pedindo em oração que nos encontremos por aí, por ali, e por aqui. Suplicando em prece que essas pequenas coisinhas que nos afligem, se percam pelo caminho. Enquanto não, fica essa lacuna entre a gente e um céu inteiro de lembranças.

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